Eu me lembro do dia.
Era 21 de novembro.
Naquele dia tomei uma importante decisão: te apagar.
Dar um fim à marca indelével que eu acreditava que você
deixara, mas saiu de mim fácil, rápido e rasteiro como o grafite vagabundo ao
leve passar de uma borracha qualquer.
E o fiz de maneira serena, certa, rasteira. O fiz sem
qualquer ressentimento ou raiva ou mágoa ou tristeza. O fiz com a grandiosidade
de quem descarta um chiclete mascado, que perde o gosto mas que a gente, sei
lá, insiste em manter na boca.
Já não tem gosto, não tem cheiro, não tem graça. Mas a gente
parece precisar dele tanto, e tanto, que masca, com medo de que
acabe....quando, por fim, já acabou. Devo pontuar, claro, que o fiz com a
grandiosidade de grudá-lo em um guardanapo, três vezes dobrado e discretamente
largado em um cinzeiro próximo. Ninguém notou.
Parei e pensei que de certa forma, sabe, era estranho te
tirar de mim tão fácil. Em uma pequena fração de tempo tirei de mim sua força e
lembranças; tirei de mim a vontade de saber de você, da sua vida, dos seus
gostos e até dos seus possíveis futuros ex-amores.
Era estranho porque sua importância até então era quase táctil.
Sua presença era quase física, com suas formas desgrenhadas mas atraentes; com
seus toques e arranhões que me doíam no escuro, enquanto eu dormia sozinha e
sonhava.
E então, sem mais, você tornou-se o que era: presença
figurativa, imagem abstrata.
Nuvem. Névoa. Nada.
Nuvem. Névoa. Nada.
Eu sabia que a gente sempre seria importante. A gente se
amava de um jeito maluco, nos espaços mais escusos das nossas ondas cerebrais,
afinal.
A gente se amava na essência do abstrato. Em um mundo
paralelo, perfeito, criado por nós, quando procurávamos exatamente um pouco de
nós mesmos um no outro. A gente achou. Mas era tudo muito novo, era tudo muito frágil.
Eu só me dei conta disso tudo quando finalmente tirei de mim
tudo aquilo que eu achava que você significava – e antes me parecia
tanto!...mas era pouco.
E então eu te apaguei, naquele 21 de novembro.
E renasci.
Obrigada. Por tudo.
2 comentários:
FORTE!!!
Adorei... Ótimo texto...
Me emocionei. Sem mais.
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