terça-feira, 20 de março de 2012

Afeitos e imperfeitos

Ele então se surpreendeu.
Porque nunca alguém antes lhe havia dedicado uma poesia.
E as palavras que ele conhecia eram feitas de expectativas e razão
Vinham de alma vazia.

E então ele se rendeu.
Porque era tudo tão simples e natural que ele sentia-se preso ao chão.
Mas no chão era ela quem pisava
Solta, de pés descalços, sem amarras, de coração.

E então ele a tomou.
Porque eram feito espelho, guerreiros, alheios a qualquer reprovação
Ela botou os sapatos, olhando-os nos olhos e teve certeza:
Ele, e o que vinha dele, não seriam em vão

E então, ele acordou do sono tranquilo
Sentiu o peso forçar-lhe as costas
O chão lhe tremer as pernas tortas.
Desejou retomar a emoção das apostas.

Ele estremeceu. Pausou. Explicou.
Ela entendeu.

Ela sabia que eram como espelho
Mas não podia refletir o que ele não era, ainda, capaz de ver
Os passos dele ainda eram duros demais pra reconhecer toda a beleza que trazia em si.
Para ele, a luta fazia sentido; não a vitória.

Ele conhecia a guerra, o peso, a força.
E ela era leveza.

De tão parecidos, tornaram-se opostos.
Imperfeitos, mesmo tão afeitos.

A vida não era perfeita, afinal.

Um comentário:

d. disse...

Nossa, muito bom!
começa leve, fica pesado e termina com uma leveza pesada. rs.
Gostei de ver, voltou com tudo!!!
:D